quarta-feira, 13 de maio de 2020

Nossa Senhora de Fátima

Álvaro de Brée, Nossa Senhora de Fátima do Rosário (Fotografia do Estúdio Mário Novais, Biblioteca de Arte, Fundação Calouste Gulbenkian)
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A imagem foi posta ao culto na Igreja de São Domingos, de Lisboa, em 13 de Outubro de 1962, segundo o jornal Novidades. De acordo com Marco Daniel Duarte («A iconografia da Senhora de Fátima: da criação ex nihilo às composições plásticas dos artistas», in Cultura, Revista de História e Teoria das Ideias, Vol. 27, 2010):
«Também esguia, mas de trato muito mais doce, é a escultura que Álvaro de Brée oferece à igreja de São Domingos de Lisboa. A sua escultura, de cerca de 2,85 metros de altura, surge na alvura do mármore a contrastar com a metálica coroa aberta que possui sobre a cabeça. É uma das esculturas da Virgem de Fátima mais bem conseguidas, porquanto não dispensa qualquer dos elementos iconográficos, mas os enquadra de uma forma plena de originalidade. Resolve a questão da azinheira reduzindo-a, ou guindando-a, a atributo iconográfico, não a trabalhando como elemento cénico. Coloca-a na base da estátua, onde também regista o escudo nacional, precisamente sob a azinheira, provavelmente a significar ser a terra daquela árvore eleita pela Virgem. É também na copa da pequena azinheira que coloca o símbolo iconográfico da estrela, neste caso de dez pontas. Brée deixa dois discretos recantos laterais ao tronco da árvore para assinar e datar a obra. É assim formada a base da escultura que ocupa cerca de um terço da composição total. Para cima, desenvolve-se um drapeado esguio, pleno de angulosidades, que, não obstante, nunca ferem, porque dispostas de forma simétrica e muito grácil. As mãos, coladas uma à outra à altura do peito, são esguias como toda a coluna esculpida. Delas pendem duas largas mangas e delas saem as abas do manto que, lateralmente, se abrem nas já referidas ondulações angulosas. O manto é formado sobre os ombros da Senhora e não sobre a cabeça, como é mais tradicional. Sobre esta encontra-se uma mantilha ou véu disposto em citação formal à silhueta do manto. Embora o escultor alinhasse a maioria das contas do terço sem a divisão dos padre-nossos pela mediana vertical da escultura, elas partem do braço direito, o que pode revelar uma documentada autoridade do escultor».

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