segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Ainda o Natal

Policarpo de Oliveira Bernardes, Fuga para o Egipto (c. 1730, Museu Nacional do Azulejo)
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História Antiga

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.

Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
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2 comentários:

Isabel disse...

Gosto do azulejo e do poema.

Continuação de boas festas:))

Margarida Elias disse...

Isabel - Obrigada! Continuação de boas festas! :-)