quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Caminhos

Para o dia de hoje, uma pequena paisagem que herdei do meu tio (João Mattos e Silva), que não sei quem é o autor (atrás diz apenas "Caramulo"); e um poema de que gosto muito, que descobri no blogue (In)Cultura:

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Para além da curva da estrada

Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.
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Alberto Caeiro, s.d.“Poemas Inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença, 1994, p. 129.

2 comentários:

MR disse...

Boa combinação. A aguarela (?) é bonita.
Bom dia!

Margarida Elias disse...

MR - É um óleo, bem pequeno. Bom dia!