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Nascido em Lisboa, em 27 de Dezembro de 1845 (12 anos mais velho que Columbano), faleceu na mesma cidade em 26 de Março de 1924, estando nós, agora, a dois anos do centenário da sua morte.
O compositor português foi retratado por Columbano num estilo que o artista adotou desde 1889 (no retrato de Antero de Quental), onde, inspirando-se no tenebrismo espanhol do século XVII (sobretudo de Velásquez), retratou as figuras ao nível do busto, fazendo emergir o rosto pálido do fundo escuro. Geralmente o rosto apresenta-se a três quartos (olhando o espectador), sendo que a barba escura acaba por fazer sobressair a parte superior da face, nomeadamente o olhar.
Dizia-se que Columbano era um pintor de almas e, de facto, as longas poses, durante as quais o artista podia conversar com o retratado, ajudariam a criar o ambiente propício para que o artista captasse a personalidade (a alma?) dos modelos e a reproduzisse na tela.
Mas não venho agora divagar sobre essa questão, mas apenas observar que, na minha tese de Doutoramento, não tinha tido acesso a este retrato (por isso o reproduzi a preto e branco), sabendo muito pouco dele, assumindo uma data de cerca de 1911, porque correspondia à data em que foi exposto pela primeira vez. Afinal é seis anos anterior. O quadro foi agora (2021) doado pela bisneta de Augusto Machado ao Museu do Chiado, daí ter ressurgido a público.
Nas minhas anotações, fui ver se tinha algo sobre esta obra e apenas descobri que há duas cartas de Augusto Machado no espólio de Columbano: uma de 29 de Dezembro de 1905 e a outra de 9 de Maio de 1918. Da primeira anotei a frase: «Não é bom o camarote que tomo a liberdade de lhe offerecer para a "Vénus"» - o que não sei a que se refere. Julgo que ele teria uma letra difícil, por isso tive dificuldade em lê-la (há uns 25 anos atrás). De qualquer modo,o espólio de Augusto Machado está na Biblioteca Nacional (desde 2009) e talvez um dia vá lá procurar cartas de Columbano para ele - e reler as cartas dele que estão no Chiado.
Tudo isto se relaciona com projectos que não passaram do papel - da exposição das obras da neta de Augusto Machado, a pintora
Maria Constança Machado (1904-1937) e do estudo do Espólio de Columbano, com reedição das cartas de Teixeira Gomes. Talvez um dia, quem sabe. Para já pensa-se num Catálogo Raisonné da obra de Columbano, o que já seria muito bom.
Para finalizar este "despejar" de ideias, na minha breve pesquisa, verifiquei que Augusto Machado teria em sua casa uma pintura de Columbano, o quadro
No Pátio (1885, Casa-Museu Anastácio Gonçalves, Lisboa), obra comprada em 1947 à nora do músico. Como o quadro chegou a Augusto Machado seria um outro bom tema de pesquisa.