quinta-feira, 3 de março de 2022

«Ainda o Columbano. E porque não? Ainda e sempre…» (Manuel Teixeira Gomes, 1939)

Columbano Bordalo Pinheiro, Retrato de Augusto Machado (1905, Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa)
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Nascido em Lisboa, em 27 de Dezembro de 1845 (12 anos mais velho que Columbano), faleceu na mesma cidade em 26 de Março de 1924, estando nós, agora, a dois anos do centenário da sua morte. 
O compositor português foi retratado por Columbano num estilo que o artista adotou desde 1889 (no retrato de Antero de Quental), onde, inspirando-se no tenebrismo espanhol do século XVII (sobretudo de Velásquez), retratou as figuras ao nível do busto, fazendo emergir o rosto pálido do fundo escuro. Geralmente o rosto apresenta-se a três quartos (olhando o espectador), sendo que a barba escura acaba por fazer sobressair a parte superior da face, nomeadamente o olhar.
Dizia-se que Columbano era um pintor de almas e, de facto, as longas poses, durante as quais o artista podia conversar com o retratado, ajudariam a criar o ambiente propício para que o artista captasse a personalidade (a alma?) dos modelos e a reproduzisse na tela. 
Mas não venho agora divagar sobre essa questão, mas apenas observar que, na minha tese de Doutoramento, não tinha tido acesso a este retrato (por isso o reproduzi a preto e branco), sabendo muito pouco dele, assumindo uma data de cerca de 1911, porque correspondia à data em que foi exposto pela primeira vez. Afinal é seis anos anterior. O quadro foi agora (2021) doado pela bisneta de Augusto Machado ao Museu do Chiado, daí ter ressurgido a público. 
Nas minhas anotações, fui ver se tinha algo sobre esta obra e apenas descobri que há duas cartas de Augusto Machado no espólio de Columbano: uma de 29 de Dezembro de 1905 e a outra de 9 de Maio de 1918. Da primeira anotei a frase: «Não é bom o camarote que tomo a liberdade de lhe offerecer para a "Vénus"» - o que não sei a que se refere. Julgo que ele teria uma letra difícil, por isso tive dificuldade em lê-la (há uns 25 anos atrás). De qualquer modo,o espólio de Augusto Machado está na Biblioteca Nacional (desde 2009) e talvez um dia vá lá procurar cartas de Columbano para ele - e reler as cartas dele que estão no Chiado. 
Tudo isto se relaciona com projectos que não passaram do papel - da exposição das obras da neta de Augusto Machado, a pintora Maria Constança Machado (1904-1937) e do estudo do Espólio de Columbano, com reedição das cartas de Teixeira Gomes. Talvez um dia, quem sabe. Para já pensa-se num Catálogo Raisonné da obra de Columbano, o que já seria muito bom.
Para finalizar este "despejar" de ideias, na minha breve pesquisa, verifiquei que Augusto Machado teria em sua casa uma pintura de Columbano, o quadro No Pátio (1885, Casa-Museu Anastácio Gonçalves, Lisboa), obra comprada em 1947 à nora do músico. Como o quadro chegou a Augusto Machado seria um outro bom tema de pesquisa.

3 comentários:

APS disse...

Muito me agradaram as suas reflexões e conhecimentos que deu a partilhar - bem haja!
Uma boa tarde.

MR disse...

Um dos meus pintores portugueses preferidos.
Folgo em saber que se pensa num catálogo raisoné da obra de Columbano.
Bom dia!

Margarida Elias disse...

APS - Fico feliz. Boa tarde!

MR - Esperemos que se concretize. Boa tarde!