«Considerado o monumento mais emblemático da cidade de Lisboa, o Castelo de S. Jorge é um testemunho relevante de momentos ímpares da história de Lisboa e de Portugal.
Em 16 de Junho de 1910, meses antes da implantação da República, D. Manuel II, último Rei de Portugal, manda publicar o decreto de classificação do património nacional com estatuto de Monumento Nacional, em cuja lista se incluía o Castelo de S. Jorge.
(...)
Assim, a área classificada em 1910 integrou um conjunto de património notável constituído pelo castelo e as muralhas, por alguns edifícios que outrora faziam parte do antigo Paço Real da alcáçova, ocupados então pelo quartel, e por uma área designada hoje por Praça Nova que encerra vestígios de várias épocas, desconhecidos na altura, com destaque para o conjunto residencial da época Islâmica.
É nessa zona a nascente do castelo, a Praça Nova, onde hoje se situa o Núcleo Arqueológico, que se encontram os vestígios mais antigos de ocupação da área circunscrita pelo Monumento Nacional e que remontam ao séc. VII a.C., à Idade do Ferro, época em que provavelmente aí se localizava um povoado fortificado.
(...)
À semelhança do que acontecia noutras cidades islâmicas do al-Andalus, o local escolhido para a construção do castelo da alcáçova obedecia a determinadas características topográficas, como a dificuldade de acesso e a existência de um maciço rochoso escarpado de forma a potenciar a inexpugnabilidade da fortificação dissuadindo assim um pretenso ataque. Com uma planta quadrangular com cerca de 50 m de largura dividido por um muro com uma torre adossada, o castelo preserva ainda as onze torres, uma das quais a meia encosta, designada por torre da couraça e que permitia o acesso a um ponto de água em caso de cerco prolongado.
(...)
Em 1147, D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, com a ajuda da Segunda Cruzada, conquista a cidade que capitula após cinco meses de cerco. Em 25 de Outubro desse ano, o novo poder instala-se no Castelo de S. Jorge. Os personagens mudam mas permanecem as funções e a nobreza dos residentes que adoptam os espaços funcionais dos antecessores.
A antiga zona palatina serviu de aposentos aos novos senhores, o castelo permaneceu como local de comando militar, adoptando a orgânica funcional anterior, a área residencial, junto à antiga mesquita consagrada agora ao culto cristão, foi doada ao Bispo de Lisboa para aí construir o seu paço e fundou-se a freguesia de Santa Cruz da alcáçova onde se estabeleceram os nobres ligados ao poder.
(...)
De meados do séc. XIII até ao início do séc. XVI, o Castelo de S. Jorge conheceu o seu período áureo. Nos edifícios onde hoje se encontra o Núcleo Museológico, o Café do Castelo e o Restaurante Casa do Leão, localizava-se o antigo palácio do alcaide mouro que se converteu em residência dos Reis de Portugal quando estavam em Lisboa. Transformado em Paço Real, ampliaram-se e adaptaram-se os espaços antigos, construíram-se outros novos, instalou-se o Rei, a Corte e o arquivo régio numa das torres do castelo, receberam-se personagens ilustres nacionais e estrangeiras, realizaram-se festas e aclamaram-se Reis.
(...)
Ao Paço Real da alcáçova, com as suas inúmeras dependências, ao castelo, agora devotado a S. Jorge, santo padroeiro dos cavaleiros e das Cruzadas, por ordem do rei D. João I, e ao Paço do Bispo, juntaram-se, segundo os documentos, as Casas da Rainha, com as Cavalariças e o Hospital, casas de nobres da Corte, uma ou duas albergarias, a igreja e o cemitério, as capelas e alguns serviços da Administração, a Chancelaria, os Contos do Rei e o Arquivo Régio.
(...)
O século XVI dita uma renovação mais substantiva da ocupação do Castelo de S. Jorge, marcada pela transferência do Rei e da Corte para o Paço da Ribeira situado no Terreiro de Paço e pelo regresso da vida militar que sobreveio com a integração de Portugal na Coroa de Espanha em 1580. Porém, D. Sebastião (1557-1578) mandou ainda proceder a obras no antigo Paço Real (...).
Após a Restauração em 1640 permaneceu a matriz militar, manteve-se o quartel e a prisão e o novo Alcaide–Mor instalou-se no actual Palácio do Governador, que integrava o antigo Paço do Rei. Numa das torres do castelo e nas alas do antigo Paço continuou a funcionar a Torre do Tombo (...).
(...)
No século XVIII e XIX o Castelo de S. Jorge recebe as alterações mais profundas. Com o terramoto de 1755, as muralhas, o castelo, o antigo Paço Real, bem como a maior parte dos palácios, ermidas, igreja e outras construções existentes ficaram em ruínas. Sobre os escombros dos antigos edifícios, foram lentamente construídos outros que esconderam as ruínas dos anteriores. Só a igreja de Santa Cruz foi reconstruída. O castelo e parte dos vestígios do antigo Paço Real da alcáçova foram redescobertos já no século XX, após as demolições das construções pós-terramoto que os encobriam.
(...)
É no decorrer do século XX que se redescobre o castelo, os vestígios do antigo Paço Real, a alcáçova islâmica e as vivências de outrora. As intervenções de 1938-40 promovidas pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, conferiram-lhe a imponência actual, resgatada no meio das demolições então levadas a cabo, atestando materialmente aqui e ali fragmentos das construções do passado documentadas amiúde nas fontes escritas. As outras que se seguiram, em particular as que se iniciaram na última década do século XX, contribuíram de forma singular para avivar a memória e lembrar a antiguidade da ocupação no topo da colina, restituindo à História páginas que estavam em branco e, acima de tudo, confirmando o inestimável valor histórico que fundamentou a classificação do Castelo de S. Jorge como Monumento Nacional no início do século XX (...)».
---