quinta-feira, 4 de abril de 2013

A propósito de um retrato


Caspar Netscher, Young girl (c. 1660, in Old Paint).
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Desde há algum tempo que me interesso pelas cadeiras representadas nos retratos. Com o evoluir das minhas pesquisas, cada vez estou mais convencida que essas cadeiras têm um valor iconográfico, nomeadamente por acrescentarem informação sobre a figura do retratado: social, psicológica, profissional, etc.. 
Por outro lado, ando fascinada com as cadeiras do século XVII, nomeadamente aquelas que surgem na pintura flamenga e holandesa. Neste retrato pintado por Caspar Netscher (1639-1684), vemos uma jovem de pé, elegantemente vestida, que apoia a sua mão direita nas costas de uma cadeira. Logo aqui noto um detalhe curioso: se uma figura estiver sentada (particularmente se estiver a ler ou a trabalhar) dá uma imagem mais ligada ao quotidiano, quer na intimidade, quer na vida profissional - excepto quando num trono, o que lhe confere um estatuto de autoridade. Contudo, se uma figura está de pé, junto de uma cadeira, nomeadamente quando fica virada para o espectador, fica numa situação de pose, de expectativa. Neste caso em particular, a mão sobre a cadeira liga a figura à peça de mobiliário - o que é ainda mais notório porque não existe outro elemento de mobiliário ou decorativo na composição. 
Gostava de atentar na cadeira e de descobrir mais sobre ela. Atraem-me sobretudo as flores vermelhas e alaranjadas, que me parecem ser rosas e tulipas  No assento parece ver-se um brasão de armas - o que não só inclui esta cadeira na tipologia das cadeiras brasonadas, como dá uma indicação provável sobre a figura feminina retratada. Este tipo de cadeiras é forrada com um tipo de tapeçaria conhecida como "turkey work", muito em voga na centúria de seiscentos. Uma das minhas dúvidas quando olho para estas peças de mobiliário figuradas nas pinturas é se de facto elas existiam ou se eram inventadas pelo pintor. É certo que no século XVII existiram muitas cadeiras semelhantes a esta, mas esta tem a particularidade de o brasão de armas estar no assento - o que seria pouco recomendável, pois é uma zona sujeita a maior desgaste. O costume era o brasão ficar no encosto da cadeira.
Por fim, deixo uma sugestão - apenas baseada numa breve incursão na internet - que gostava de poder um dia aprofundar. Será ela Maria Henriqueta, "Mary, Princess Royal e Princess of Orange" (1631-1660) que casou com Guilherme II (1626 – 1650) "Prince of Orange" e stadtholder das United Provinces of the Netherlands, desde 1647? Os retratos e a cronologia fazem sentido (sendo este retrato, nesse caso, provavelmente anterior a 1660); o brasão da cadeira (que se vê muito mal, assumo), também é parecido com o dos Stuart. Além disso, o retrato desta jovem surge num site sobre os Stuarts. Supondo que este quadro fosse de c. 1650, ela teria dezanove anos - o que é verosímil com a fisionomia retratada. Fica a minha dúvida e a minha curiosidade - e aceito sugestões.

2 comentários:

APS disse...

Curioso, o retrato. E muito interessante e informativo, o seu texto.

Margarida Elias disse...

Obrigada! :)