Andrei Nikolaevich Schilder (1886, in The Glory of Russian Painting).
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Andrei Nikolaevich Schilder, Birch Forest (1908, in The Glory of Russian Painting).
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Ontem no blogue Art History Today li a seguinte frase de Proust:
«A picture is nowadays “presented” in the midst of furniture, ornaments, hangings of the same period, a second-hand scheme of decoration…; and among these, the masterpiece at which we glance up from the table while we dine does not give us that exhilarating delight which we can expect only from it in a public gallery, which symbolizes far better by its bareness, by the absence of all irritating detail, those innermost spaces into which the artist withdrew to create it».
O pensamento de Proust intrigou-me sobretudo porque não sei até que ponto se pode afirmar que o museu simboliza melhor o espaço em que o pintor estava (física e/ou mentalmente) no momento em que criava a obra.
Por exemplo, numa paisagem, o artista escolheu um fragmento da natureza que o impressionou, enquadrou-o e trabalhou-o. Haveria toda uma outra natureza em torno dele que foi excluída. Se estivesse a pintar no ateliê, certamente teria outros objectos em torno de si, para além do quadro em que estava a trabalhar.
Mas não deixo de concordar que o local em que se expõe uma pintura, mesmo a moldura e a decoração (ou a ausência de decoração) que ficam próximos, alteram a nossa perspectiva, a nossa forma de fruir um quadro. Certamente olhar para uma obra de arte enquanto se janta não é o mesmo que vê-la num museu, isolada de outras distracções. A frase de Proust dá-me que pensar e gostava de saber outras opiniões sobre este tema.
Só mais um detalhe: a discussão ainda é mais curiosa se pensarmos que, hoje em dia, muitas obras de arte podem ser vistas, em casa, em livros ou na internet. A maioria dos especialistas defende que só o contacto directo com a obra permite uma fruição real da mesma. Mas conheci um especialista (que detestava viajar) e que defendia que hoje as reproduções são tão boas, que se disfruta melhor no sossego do lar ou do escritório, sem gente à frente, e com silêncio. Fica assim mais uma questão que deixo em aberto - mas acrescento, para aumentar a "entropia", que hoje, na internet, temos uma visão dos quadros de facto extraordinária - por exemplo no blogue Gandalf's Gallery, apresentam-se pinturas com tanta definição que se vêem melhor os detalhes do que num museu (onde não é permitida tanta aproximação).
Já quanto à escultura, não conheço nada que se assemelhe à fruição directa. Quando, há uns anos, fui ao Louvre, fiquei "horas" fascinada a olhar para a pele das mãos dos Escravos de Miguel Ângelo. Não me parece que pudesse vê-las / admirá-las assim numa reprodução - nem em casa de alguém, enquanto jantava...
2 comentários:
«A maioria dos especialistas defende que só o contacto directo com a obra permite uma fruição real da mesma.»
Realmente, para mim é importante o momento de fruição em frente à obra para ver as cores reais, o detalhe, o óleo com pequenas fissuras do tempo. Não é a mesma coisa olhar à distância com o tratamento de terceiros.
Achei interessante a interpelação de Proust, talvez pense assim por ser escritor.
Ver a obra no seu espaço habitual ou ver num museu pode suscitar encantamento diferente. :)
Por exemplo na casa do pintor, ver-se-ia a obra com mais intimismo do que se for num museu. Todavia, num grande museu pode ser vista por mais pessoas. É difícil chegar a um consenso, ele apenas reside no facto de se ver a obra ao vivo.
Beijinho. :))
Obrigada Ana. Creio que tem razão. Bjms!
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