Alfredo Keil, Nuvens (1897, Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea)
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Nuvens da Tarde
Aquelas nuvens, que voam,
Ninguém pode pôr-lhes mão…
São como as horas que soam,
E as aves que em bando vão…
Como a folha desprendida,
E como os sonhos da vida,
Aquelas nuvens que voam…
Às vezes o Sol, que as doura,
Parece à glória levá-las…
Mas surge o vento e, numa hora,
Já ninguém pode avistá-las!
É um convite enganoso,
Um escárnio luminoso,
Às vezes o Sol, que as doura!
Tantos castelos caídos!
Tantas visões dissipadas!
Gigantes, heróis perdidos,
Que mal sustêm as espadas!
Faz pena ver, lá do monte,
Nas ruínas do horizonte,
Tantos castelos caídos!
Aquelas nuvens, que vemos,
Esses poemas aéreos,
São os sonhos que nós temos,
Nossos íntimos mistérios!
São espelhos flutuantes
Das nossas dores constantes
Aquelas nuvens, que vemos…
Nossa alma vai-se com elas,
À procura, quem o sabe?
Doutras esferas mais belas
Já que no mundo não cabe…
Voando, sem dar um grito,
Através desse infinito,
Nossa alma vai-se com elas!
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Antero de Quental (no Falcão de Jade)
3 comentários:
É um poema muito bonito!
Boa tarde:)
As nuvens são lindas.
O poema de Quental também.
Um beijinho, Margarida. :))
Isabel - É bem verdade. Bom dia!
Ana - Concordo. Beijinhos, Ana!
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