Luís Gonzaga Pereira, Igreja de Nossa Senhora do Rosário
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Onde é hoje o Hospital Curry Cabral, foi o Recolhimento de Nossa Senhora das Dores. Foi no século XVIII que a zona entre o Rego e o Campo Pequeno teve um desenvolvimento mais notório, sobretudo depois do Terramoto de 1755, que para aqui trouxe pessoas que procuravam uma morada mais segura. Aumentaram as quintas e surgiram dois conventos, o de Nossa Senhora da Conceição e o Recolhimento de Nossa Senhora dos Mártires, de religiosas terceiras de São Francisco, na actual Rua da Beneficência.
Mapa no site Lx Conventos, que mostra a localização da Igreja e do Recolhimento, bem como a extensão da cerca.
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Segundo o manuscrito de Luís Gonzaga Pereira, o Recolhimento foi o fundado cerca de 1768, por Margarida das Mercês de Maré, filha de pais estrangeiros. O recolhimento original fora criado numa casa no sítio do Grilo, por D. Isabel, Condessa de Ficalho, e Joaquina Engrácia.A construção do edifício do Rego teve o apoio da rainha D. Maria I. Inicialmente tinha a devoção a Nossa Senhora do Rosário, mas, depois de terem sido aqui recebidas as recolhidas de Nossa Senhora das Dores, que antes estavam no Largo do Leão, o convento passou a designar-se de Recolhimento de Senhora das Dores e Santíssimo Rosário.
Situado fora das portas de Lisboa, para lá chegar saía-se pela porta de São Sebastião da Pedreira, e seguia-se em frente até a um largo onde estava a Igreja, edificada no estilo característico do final do século XVIII, semelhante a outras igrejas construídas no tempo de D. Maria. Tinha sobre o portal as armas da rainha e também os símbolos da Ordem Terceira de São Francisco.
Na altura da extinção das ordens religiosas, em 1834, já aqui existiam poucas recolhidas e havia falta de meios. Contudo, o convento terá permanecido até à morte da última freira, como era costume no caso dos conventos femininos. Em 1901, a administração do Hospital de São José tomou posse do antigo convento; mais tarde aqui foi instalado o Hospital do Rego (Curry Cabral), aberto em 1906.
Eduardo Portugal, Igreja do Convento de Nossa Senhora das Dores (Arquivo Municipal de Lisboa)
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A igreja, onde (em 1833) estava o túmulo da fundadora, serviu de depósito e, durante algum tempo, de casa mortuária. Desde 1935 foi cedida ao Patriarcado para depósito de imagens e acessórios que pertenceram à Igreja de São Julião. Em 1945, a zona foi atingida pelas inundações, como ficou registado em fotografias da época. Substituída «pela vizinha Igreja, nova, de N. Senhora de Fátima» (Norberto de Araújo), a igreja setecentista foi demolida em 1956.
Judah Benoliel, Inundações de 18 de Novembro de 1945 (Arquivo Municipal de Lisboa)
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Bibliografia:
Norberto de Araújo, Peregrinações em Lisboa, Vol. XIV, pp. 58-59 - citado in Lisboa de Antigamente.
Carlos Consiglieri, José Manuel Vargas e Marília Abel, Pelas Freguesias de Lisboa, São Domingos de Benfica, São Sebastião da Pedreira, Nossa Senhora de Fátima, Campolide, Câmara Municipal de Lisboa, 2000.
Luís Gonzaga Pereira, Descripção dos monumentos sacros de lisboa, ou collecção de todos os conventos, mosteiros, e parrochiaes no recinto da cidade de lisboa. em MDCCCXXXIII, 1840 - online no site da Biblioteca Nacional.
Lx Conventos, FCSH-CML.
3 comentários:
Pensava que ainda havia um 'resto' deste Recolhimento na Rua da beneficência, junto à linha de comboio.
Boa tarde!
Impressionante. Conheço essa rua tão bem e não fazia a menor ideia que um dia teve uma igreja tão monumental. É certo que em frente ainda existem duas casas setecentistas, já muito alteradas, mas nada fazia crer que um dia esta rua foi assim.
MR - Terei de ir passear àquela zona. Boa tarde!
LuisY - Norberto de Araújo e Luís Gonzaga Pereira não dão grande valor a este edifício, mas eu achei-o bonito e fiquei com pena que tivesse sido demolido. Bjs!
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