In Fernando Castelo-Branco, «Saídas de Lisboa no Século XVIII», 1970.
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Num artigo de Fernando Castelo-Branco, publicado na Revista Municipal Lisboa, em 1970, ele fala sobre as «Saídas de Lisboa no Século XVIII». O artigo trata de um manuscrito onde
se enumeram dez estradas pelas quais se saía de Lisboa: «Declaraçam dos logares,
em que se termina a distancia de legoa e meya em todas as estradas, que entram
nesta Corte, unindo-as todas no largo da S.ta Igr.ª Patriarcal, de donde se
principia a contar a d.ª legoa e meya p.ª cada hua das dez estradas, que sam.
P.ª a de Belem, seg.ª a de N. S. da Ajuda, p.ª Carnachide, 3.ª de Bemfica, 4.ª
N. S. da Luz, 5.ª a de Telheyras 6.ª a do Campo grande 7.ª a da Charneca, 8.ª a
de Sacavem por Arroyos, 9.ª de Sacavem por Marvilla e Olivais, 10.ª outro ramo
de Sacavem pela Quinta do Braço de prata».
O manuscrito encontra-se no Códice 505 da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, numa «Miscelânia de 237 folhas, indo a descrição desde a fol. 125 r. até à 126 v.». Não sendo datado, o autor propõe que seja posterior a 1716, por se referir à Igreja Patriarcal «e, como se sabe, foi pela Bula (…) de 7 de Novembro de 1716 que foi criada a Patriarcal de Lisboa». Como data limite posterior, propõe que seja antes de 1786, pois fala na ponte da Junqueira, «que desapareceu quando se construiu o edifício da Cordoaria Nacional, em 1786». Poderá mesmo ser anterior a 1750, pois «refere um palácio que teria sido de Marco António de Azevedo Coutinho, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra de D. João V, falecido em 1750». Na minha opinião, visto que, pelo que sei, a Patriarcal foi destruída pelo Terramoto de 1755, creio que a data entre 1716 e 1750 é a correcta.
Planta de Lisboa de Duarte Fava (1807), site Lisboa Interactiva, tentativa de reconstituição do caminho desde o Rossio até ao Campo Pequeno.
Das várias estradas descritas, por razões profissionais, interessou-me sobretudo a que ia para o Campo Grande: «(...) continuando como nas antecedentes the o Rocio, se busca a
Rua dos Canos, Portal da Mouraria, estrada dos Anjos, Chafariz de Arroyos,
Porta do Cego, Campo pequeno, Campo Grande, Lumiar, calçada de Odivellas, thé o
Painel das Almas, onde se termina a legoa e meya».
Andei a tentar perceber como era essa estrada, com ajuda do site Lisboa Interactiva, e concluí que é possível fazer, pelo menos, parte do caminho - que eu só verifiquei até ao Campo Pequeno. Assumindo, como julgo ser verdade, que a descrição é anterior ao Terramoto, o Rossio teria uma localização ligeiramente diferente da actual, o que explicará as diferenças. A Porta da Mouraria surge como uma das saídas da muralha de Lisboa, no mapa de Tinoco, de 1650. Além disso, algumas ruas e referências desapareceram, como a Rua dos Canos (que ainda aparece nos mapas de Filipe Folque de 1856-1858), mas conseguem-se alternativas razoáveis: Rua D. Duarte, Rua da Mouraria, Rua do Benformoso, Rua dos Anjos, Rua de Arroios, Rua Visconde de Santarém, Rua Alves Redol e Rua do Arco do Cego. Um dia, vou tentar fazer este percurso.
Note-se, por fim, que segundo o livro Pelas Freguesias de Lisboa, na Avenida da República, junto a Entrecampos, foram encontrados vestígios romanos, e julga-se que por
aqui passava a estrada de Lisboa para Loures. Talvez esta saída de Lisboa seja bem antiga.
E, por fim, a gravura de 1838, que está conservada no Museu da Cidade, mostra o Palácio Galveias, quintas muradas, uma fábrica de algodão (Fábrica Lençaria do Campo Pequeno) e a estrada do Arco do Cego. Acresce que nesta estrada existiu um arco, que D. João V mandou demolir, porque era muito estreito para passarem as carruagens. Conta-se que, em 1742, o rei ia a caminho das Caldas da Rainha e a sua traquitana não pôde passar, pelo que teve de ir por outro caminho (Consiglieri et al, 2000, 143-144).
E, por fim, a gravura de 1838, que está conservada no Museu da Cidade, mostra o Palácio Galveias, quintas muradas, uma fábrica de algodão (Fábrica Lençaria do Campo Pequeno) e a estrada do Arco do Cego. Acresce que nesta estrada existiu um arco, que D. João V mandou demolir, porque era muito estreito para passarem as carruagens. Conta-se que, em 1742, o rei ia a caminho das Caldas da Rainha e a sua traquitana não pôde passar, pelo que teve de ir por outro caminho (Consiglieri et al, 2000, 143-144).
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Bibl. - Fernando Castelo-Branco, «Saídas de Lisboa no Século XVIII», Revista Municipal Lisboa, Ano XXXI, Números 126/127 – 3º e 4.º Trimestres de 1970, pp. 15-22; Carlos Consiglieri, José Manuel Vargas e Marília Abel, Pelas Freguesias de Lisboa, São Domingos de Benfica, São Sebastião da Pedreira, Nossa Senhora de Fátima, Campolide, Câmara Municipal de Lisboa, 2000.
4 comentários:
De muita qualidade, esta temática que a Margarida tem vindo a desenvolver sobre olisipografia. E de grande interesse, para quem gosta de conhecer melhor Lisboa.
Faço votos para que continue!
Bom dia.
P.S.: um poste, no Prosimetron, sugere-me que o "Memórias e Imagens" faz anos.
Pois associo-me nos parabéns!
APS - É uma temática de que gosto muito. Muito obrigada e bom dia!
Li esse artigo de Fernando Castelo Branco, de que gostei francamente. É uma temática que me interessa até porque as saídas de Lisboa fazem hoje parte da cidade.
José Pedro Martins Barata também escreveu um livrinho muito interessante Três estradas de Lisboa que aborda essas saídas.
Boas leituras para boas postagens. :)
MR - Vou procurar esse livro. Obrigada! Bom dia!
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