O retrato é um dos géneros artísticos mais antigos, que remonta a épocas recuadas, começando a surgir de forma coerente a partir do Egipto faraónico. Na origem do retrato romano existem três aspectos essenciais: a tradição etrusca, o retrato fisionómico grego do período helenístico e o costume romano das imagines maiorum ou efígies dos antepassados. Em Roma os nobres patrícios tinham o monopólio do poder político, social e económico, formando um grupo de carácter conservador. Era costume entre os representantes masculinos possuirem retratos dos antecessores, as imagines maiorum, que eram guardados no atrium das casas. Desta forma realçava-se o estatuto da família, que assim demonstrava a sua antiguidade e valorizava os membros mais importantes. O retrato servia também como uma maneira de preservar as fisionomias características da gens. No caso da família Júlio-Cláudia, importa notar que esta se julgava ser descendente de Vénus. Na Eneida, quando Eneias visita seu pai Anquises no Inferno, este mostra-lhe as almas e os destinos daqueles que se preparam para nascer, terminando por afirmar: «Aqui, volta os teus olhos, olha esta nação, os Romanos. Aqui César e toda a descendência de Iulius, tal como ela surgirá sob a grande abóbada do céu. Este homem, é aquele que tu ouves frequentemente dizer que te é prometido, Augusto César, filho de um deus».
Para além do culto dos antepassados, o retrato romano tem ligações ao retrato grego. Foi na Grécia que, durante os séculos V e IV a.C., se criou pela primeira vez o retrato tal como o entendemos hoje. O retrato realista surgiu na mesma altura em que se desenvolveu a valorização da ideia de indivíduo. O retrato fisionómico é fruto de sociedades laicas, como a sociedade grega ateniense que então surgia. Um ambiente áulico é mais propício ao desenvolvimento do retrato tipológico, o que explica que nos seus aspectos comemorativos o retrato tendesse preferencialmente para a idealização da personagem. O retrato grego apresentava a figura inteira, o que correspondia a uma concepção do homem como um ser total e à ideia grega de belo, que se ligava à noção de unidade e integridade do corpo. Com Alexandre Magno surgiu um novo tipo de retrato de função política, para glorificar o indivíduo. Foi com este imperador que se inauguraram as séries de retratos de vocação dinástica, celebrando o conquistador e legitimando o seu poder. Também a estátua equestre surgiu na época helenística e teve como pressuposto Alexandre a Cavalo de Lísipo. Foi no século IV a.C. que na Etrúria surgiu o retrato fisionómico. Antes existia somente um retrato tipológico, mas que já tinha características que se manteriam no retrato romano, nomeadamente na valorização da cabeça, enquanto parte do corpo que melhor caracteriza o ser humano.
O culto imperial terá nascido da necessidade que Augusto teve de justificar, perante o Senado e perante o povo, a sua subida ao trono pela força das armas. A este culto está ligado o hábito de que o primeiro acto do conquistador sobre o novo domínio fosse instalar um templo e a sua efígie de modo a que o seu culto fosse celebrado. O retrato imperial desenvolveu uma iconografia que se tornou própria da dinastia Julio-Cláudia. Tendeu a conciliar alguma idealização (que corresponderia talvez também à divinização das personalidades em causa, uma vez que contribuía para uma concepção da efígie dentro de uma eterna juventude e beleza) com a os constituintes da identidade pessoal. Os bustos foram aumentando de tamanho, no sentido de ultrapassarem a linha do pescoço e descerem até ao peito. No entanto, no retrato imperial predominava a estátua de corpo inteiro. Surgiram as «estátuas-pedestal», que correspondiam a corpos aos quais eram aplicadas cabeças-retrato, devidamente elaboradas de modo a que encaixassem. Este sistema permitia alterar os retratos com maior facilidade, nomeadamente quando existiam alterações de governo e em casos de damnatio memoriae. Em termos de composição, os grupos Júlio-Cláudios ocupavam uma posição limiar entre o humano e o sobrenatural. Embora as estátuas fossem geralmente de tamanho natural ou pouco maiores, com o tempo começaram a surgir algumas de tamanho colossal, que transmitiam uma noção de poder supremo. Progressivamente as figuras imperiais começaram a ser identificadas com os deuses. Tibério e Cláudio foram representados figurando Júpiter.
Segundo Suetónio, Calígula chegou a mandar colocar o seu retrato sobre o corpo de deuses e deusas. Este escreveu que o Imperador considerava ter superado a grandeza dos príncipes e dos reis, passando a conferir-se majestade divina: «(...) Depois de ordenar que trouxessem da Grécia as estátuas das divindades mais belas e mais veneradas, entre as quais a de Júpiter Olímpico [obra de Fídias], no intuito de lhes substituir as cabeças pela sua própria, mandou ampliar até ao Forum uma álea do palácio e, transformando em vestíbulo o templo de Castor e Polux, ali se postava muitas vezes, no meio dos irmãos os deuses, oferecendo-se assim à admiração dos visitantes e muitos o saudaram mesmo com o nome de Júpiter Latino. Instituiu também um templo especialmente consagrado à sua própria divindade, (...). Nesse templo erguia-se a sua própria estátua de oiro, feita com o modelo à vista, todos os dias revestida com um trajo igual ao seu (...)». O mesmo historiador conta que Nero mandou colocar coroas sagradas nos seus aposentos e erigiu estátuas suas vestidas como tocador de Cítara, mandando cunhar uma moeda com essa efígie.
A dinastia Júlio-Cláudia é a que tem uma maior quantidade de retratos encontrados tanto em Portugal como na Península Ibérica, correspondendo a um momento de apogeu do domínio romano, no qual houve maior paz e riqueza. No território português têm sido encontrados retratos desta dinastia, aparecendo também inscrições que indicam a existência de estátuas hoje desaparecidos. Como referiu Vasco de Sousa, ao dedicar-se a este tema, os «(...) retratos romanos imperiais encontrados em Portugal são, na sua maioria, cabeças de encaixe elaboradas para serem inseridas numa estátua». Pertenceriam todas as cabeças a esculturas monumentais, talvez estátuas de corpo inteiro ou «estátuas-pedestal».
O culto imperial terá nascido da necessidade que Augusto teve de justificar, perante o Senado e perante o povo, a sua subida ao trono pela força das armas. A este culto está ligado o hábito de que o primeiro acto do conquistador sobre o novo domínio fosse instalar um templo e a sua efígie de modo a que o seu culto fosse celebrado. O retrato imperial desenvolveu uma iconografia que se tornou própria da dinastia Julio-Cláudia. Tendeu a conciliar alguma idealização (que corresponderia talvez também à divinização das personalidades em causa, uma vez que contribuía para uma concepção da efígie dentro de uma eterna juventude e beleza) com a os constituintes da identidade pessoal. Os bustos foram aumentando de tamanho, no sentido de ultrapassarem a linha do pescoço e descerem até ao peito. No entanto, no retrato imperial predominava a estátua de corpo inteiro. Surgiram as «estátuas-pedestal», que correspondiam a corpos aos quais eram aplicadas cabeças-retrato, devidamente elaboradas de modo a que encaixassem. Este sistema permitia alterar os retratos com maior facilidade, nomeadamente quando existiam alterações de governo e em casos de damnatio memoriae. Em termos de composição, os grupos Júlio-Cláudios ocupavam uma posição limiar entre o humano e o sobrenatural. Embora as estátuas fossem geralmente de tamanho natural ou pouco maiores, com o tempo começaram a surgir algumas de tamanho colossal, que transmitiam uma noção de poder supremo. Progressivamente as figuras imperiais começaram a ser identificadas com os deuses. Tibério e Cláudio foram representados figurando Júpiter.
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