sexta-feira, 10 de abril de 2009

Descida da Cruz

Pintura de Rubens, Descida da Cruz (1612-1614, O.L. Vrouwekathedraal, Antuérpia).
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É extraordinária esta obra de Peter Paul Rubens (1577-1640), um dos pintores mais importantes da época barroca. Quem me chamou primeira a atenção para este quadro foi um amigo da minha mãe que é professor de estética na Sociedade Nacional de Belas-Artes.
É uma pintura notável. A figura de Cristo insere-se na diagonal ascendente da composição, contudo ele desce da cruz, estando a sua cabeça virada para baixo. Essa diagonal é branca: branco o pano em que vão envolver Cristo, branco o corpo de Cristo morto. Esse branco está rodeado de uma escuridão onde se vislumbram as restantes personagens. Entre elas sobressai São João, trajado de vermelho, como é próprio da sua iconografia. E esse vermelho é uma cor quente e vibrante, característica da pintura flamenga. Li algures que Rubens foi dos últimos pintores a saber compôr esse tom de vermelho. Mais discreta é a figura de José de Arimatéia, ricamente trajado, o qual seria o dono do sepulcro onde iria enterrar Jesus. No canto superior direito, deve-se observar o pormenor naturalista do homem que para fazer força, para envolver Jesus no pano de linho enquanto segura o corpo, morde o pano. Maria surge na escuridão, vestida de escuro, de luto, tentando tocar no filho, numa pungente mágoa que se pode observar na expressão dolorosa do seu rosto. Madalena, em baixo, segura um pé de Cristo, para quem olha triste, mas serena. A brancura rosada do seu braço prolonga o branco do corpo de Cristo, dando-lhe continuidade. No canto inferior esquerdo, junto da escada que foi utilizada para subirem à cruz, está uma natureza-morta, constituída por objectos ligados à paixão, entre os quais se encontra a coroa de espinhos.
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Margarida Elias.

3 comentários:

Abel Pereira disse...

"Para Rubens, o nu era um elemento plástico supremo; e o nu representava um veto que se rompera, portanto uma sugestão de volúpia. Numa das suas melhores obras, A Descida da Cruz, da Catedral de Antuérpia, o corpo do próprio Cristo, que participa da escultura, é de um vigor propício a impressionar, não obstante a cabeça descaída e as suas feridas tradicionais, deliberadamente discretas, células obscuras das mulheres mais sensíveis às exigências do amor físico".
In As Maravilhas Artísticas do Mundo
Ferreira de Castro, ed. Círculo de Leitores

Abel Pereira disse...

Esqueci-me de dizer que encontrei este artigo numa busca de conteúdo para Link de uma foto desta pintura:
https://madmferreiradecastro.blogs.sapo.pt/as-maravilhas-artisticas-do-mundo-v-1443

Margarida Elias disse...

Abel Pereira - Já li As Maravilhas Artísticas do Mundo há muito tempo e fiquei agora com vontade de reler. Obrigada pela visita e comentário. Bom dia!