terça-feira, 16 de junho de 2009

O Realismo (segundo Eça de Queirós)


Pintura de Honoré Daumier, Musicien des rues (Museu d'Orsay, Paris).
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«Mas Gorjão ultimamente desprezava todas essas ideias: achava-as imorais. A arte, segundo ele, devia educar pela representação das acções justas - e não pela exposição de luxos corruptores (...).
Vítor encontrou-o desenhando à luz de um candeeiro de petróleo, coberto com um abat-jour verde, que fazia cair uma luz crua sobre uma larga folha de papel, riscado de grossos traços confusos de craião (...).
A arte não era senão isto - uma força da natureza: e como tal devia ser aproveitada em proveito da civilização (...).
A arte deve ser essencialmente revolucionária. Um quadro deve ser um livro: deve ser um panfleto: deve ser um artigo de jornal.
E tudo isto meu amigo, num processo de pintura novo: nada do acabado, do estudado, do amaneirado, do trabalhado da pintura de luxo, da decoração. Não, não. A pintura não é nada - a ideia é tudo. Traços largos, sombras indicadas, tons sóbrios, que dêem a impressão exacta da realidade. Pif, paf - e dava grandes pinceladas no ar - a expressão! A expressão é tudo! Com três borrões de tinta pinto-te um agiota».
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Eça de Queirós, in Tragédia da Rua das Flores, c. 1878 (ed. 1980).

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