Margarida Elias (2012).
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A Praça do Comércio, em Lisboa, foi durante muito tempo a principal entrada na cidade, para quem vinha pelo mar. Chamou-se Terreiro do Paço até ao Terramoto de 1755, porque aí se localizava o Paço Real, desde que D. Manuel I decidiu aí construir o seu Palácio, de modo a poder estar mais próximo das Casas da Índia, Mina e Guiné.
A historiadora Paula André refere-se num texto à qualidade cenográfica deste espaço:
«(...) Os arquitectos/engenheiros militares do Reino desenharam-na à maneira dos arquitectos cenógrafos, podendo ser olhada como um desenho arquitectónico para uma perspectiva de cena. Quando percorremos a praça, vemos esse espaço como a scaenae froms dos teatros romanos e quando estamos no seu centro, lugar da skene e da orkestra, somos simultaneamente actores e espectadores. O modo particular de articular espaço fechado e espaço aberto, abrindo um dos lados da praça ao rio, sugere, simultaneamente, que se olhe a praça como espectador e que se use a praça como actor».
Em 1755, com o terramoto (somado de maremoto e incêndio), tudo foi destruído. Assim como explica Paula André, Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal desde 1769), Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, encarregou Manuel da Maia, engenheiro-mor do Reino, de estudar propostas para a reconstrução da cidade. Este redigiu uma Dissertação sobre a renovação da Cidade de Lisboa, sendo posteriormente eleito o projecto do capitão e arquitecto Eugénio dos Santos. Ao centro da nova Praça, que mantinha a mesma configuração cenográfica, ficava a estátua equestre de D. José I, modelada por Machado de Castro (inaugurada em 1775). O espaço ganhava o nome de Praça do Comércio, que ainda hoje persiste, e o Paço Real era afastado da zona ribeirinha. Os novos edifícios passavam a ser destinados para serviços do Estado e para o comércio, marcando uma nova forma de entender o poder, que era cada vez mais marcado pelo poder financeiro. O arco triunfal que coroa esta Praça, do lado norte, só foi terminado em 1875, sendo o espaço classificado como Monumento Nacional em 1910.
Uma nota final: fico sempre fascinada quando vejo imagens de Lisboa antes de 1755 e, por outro lado, continuo a preferir chamar esta praça de Terreiro do Paço.
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Bibl.: Paula André, «A Construção da Memória dos Vazios Úteis da Cidade. Conhecer para Divulgar e
Divulgar para Revelar», ISCTE, 2007.
6 comentários:
Gosto muito do Terreiro do Paço - acolhe num abraço a quem chega de barco, e oferece-nos o mundo quando olhamos para o Tejo.
A tua fotografia está muito bonita.
Beijinhos! Bom Sábado! :-)
Obrigada Sandra! Concordo contigo. Bjs!
Margarida,
Umas fotografias fantásticas de uma porta aberta no Tejo seguido o comentário da Sandra.
Beijinho! :)
É verdade, um espaço muito belo. Bjs!
Sugiro a leitura de "Do Terreiro do Paço à Praça do Comércio: história de um espaço urbano", editado pela INCM e Universidade Autónoma em Novembro de 2012. Não falta lá nada sobre a Praça, e é profusa e belamente ilustrado.
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