Joaquim José de Barros, dito Barros Laborão, Presépio de José Joaquim de Castro, dito dos Marqueses de Belas (1805-1807, Museu Nacional de Arte Antiga).
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Os meus avós paternos tinham uma quinta no Redondo (Évora), que se chamava Quinta de Santana - porque a minha avó tinha o apelido de Santana. Na Véspera de Natal costumávamos ir à Quinta, sendo esse o Natal, simultaneamente, mais tradicional e mais diferente que conheci. A minha avó preparava um grande presépio com muitas figuras, que construía num recanto de um móvel. Colocava musgo a fingir relva e espelhos a fazer de lagos, sobre os quais ficavam uns pequenos patos. Havia o hábito de o meu avô só colocar o Menino Jesus sobre as palhas mesmo na noite de Natal.
O jantar era sempre bacalhau, com batatas e couves, e lombo de porco assado com batatas fritas. A sobremesa variava entre filhoses, sericaia e "nuvens" (farófias). Mas a única sobremesa que eu gostava eram as "pinhoadas", feitas com massa de filhoses e mel.
Estava geralmente muito frio e a lareira acesa, pelo que eu passava uma boa parte do tempo à lareira.
Por volta das 11:30 da noite, íamos cantar ao Menino Jesus. Os cânticos eram bastantes e variados (não muito afinados, com excepção sobretudo da minha avó, que era quem sabia melhor as canções), terminando com as seguintes quadras:
Arre burriquito,
Vamos a Belém
Vamos a Belém
A ver o Menino
Que a Senhora tem.
Que a Senhora tem.
Que a Senhora tem,
Que a Senhora adora,
Que a Senhora adora,
Arre burriquito
Vamos-nos embora,
Vamos-nos embora.
Vamos-nos embora,
Vamos-nos embora.
E então lá íamos para a sala abrir as prendas, que quando era mais pequena ficavam junto do sapatinho.
3 comentários:
Adorei esta tua descrição! Que delícia! Obrigada por partilhares estas tuas memórias, tào encantadoras. :-)
Beijinhos!
Gostei muito da sua "memorabilia" que, embora parecidas com outras, são sempre únicas.
Sandra: Obrigada! Bom Natal!
APS: Feliz Natal!
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