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«(...) uma das terras do país que mais conservam o seu pitoresco medieval.
(...) D. Denis fêz doação da vila (...) a sua mulher a rainha S.ta Isabel (...). Desde então ficou sendo apanágio da casa das Rainhas até 1833 (...).
(...) Na quinta da Capeleira, próximo da vila, viveu Josefa d'Ayala y Cabrera, mais conhecida por Josefa de Óbidos, filha dum obidense e duma sevilhana.
O castelo de Óbidos (mon. nac.) é um dos exemplares mais perfeitos do tipo da nossa fortaleza medieval. (...) Coroando a crista calcárea do monte, as muralhas têm a planta de um ferro de engomar, com o bico virado ao S., terminado pela Tôrre Vedra ou do Facho. Na base dêste triângulo, ao N., fica o castelo própriamente dito, onde seria o paço do alcaide.
Lá dentro, envolvida quási completamente pelas muralhas, como nos séc. XIII e XIV, fica a vila (...).
Em dias de sol, a vila, cujo casario transborda a E. para fora das muralhas, apresenta um aspecto bem meridional e pitoresco. As velhas casas, muito caiadas e garridas, com os seus cunhais pintados a azul, vermelhão ou verde-cobre, perfilam-se sôbre as ruas turtuosas, umas baixas, outras altas, umas à frente, outras mais recuadas, parecendo jogar às escondidas com os transuentes (...). Um ou outro vão manuelino finamente recortado e o pelourinho joanino (mon. nac.), de granito, com o camaroeiro de D. Leonor (...). Tôda a vila é mesclada de parreiras e ciprestes, tendo sempre por fundo as vetustas muralhas ameadas, cuja côr naturalmente sugeriu o célebre dito de D. João V: "Eis aqui um vilão com uma cinta de oiro".
Dão acesso à vila quatro portas e dois postigos. (...) a S. e a E. ficam as da Vila e a do Vale, guarnecidas de pitorescos oratórios abertos para o interior das muralhas. O que fica junto à porta do Vale, dedicado à S.ª da Graça, tem a forma de capela, e foi mandado construir nos principios do séc. XVIII pelo magistrado da Índia Bernardo de Palma (...).
O castelo (...) encerra restos dum paço, que deve datar do princípios do séc. XVI. Á altura do andar nobre vêem-se duas janelas manuelinas ricamente lavradas e um portal do mesmo estilo, a que uma extensa escada exterior teria dado acesso. O portal é encimado por um brasão dos Noronhas e pelo escudo real (...). Na parede desta sala, oposta aos referidos vãos, encontra-se uma rica lareira, também manuelina, e na parte exterior do castelo, ao N., ainda se vêem, à altura do mesmo pavimento, restos dum janelão manuelino de vêrga trilobada.
"Da campina de extra-muros destacam-se para o S. algumas velhas aldeias: a Roliça (...)... No quadrante norte vêem-se S. Martinho do Pôrto, as Caldas, a freguesia de S. Gregório, a Fanadia, célebre pelo seu pão de ló, e enfim a Lagoa... (...)" (R. Ortigão).
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Das igrejas da vila e redondezas, a mais notável é sua matriz, de St.ª Maria, cuja fundação é anterior à monarquia. Como hoje se encontra, é uma construção da Renascença (...). Do lado do Evangelho, está o túmulo de D. João de Noronha, alcaide-mor de Óbidos (m. 1575), obra prima da Renascença Coimbrã (...). Vêem-se neste templo mais de 20 pinturas de Josefa de Óbidos (...).
S. Martinho é uma linda capela ogival do séc. XIV, fundada no tempo de D. Afonso IV por um beneficiado da Sé de Lisboa.(...)
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Raul Lino, «Óbidos», Guia de Portugal, Biblioteca Nacional, 1927, pp. 587-592.