sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Das "Águas Livres"

Francisco de Holanda, «Lembrança da fonte dagoa Livre trazida ao Rossio» (1571).
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Escreveu Francisco de Holanda, em 1571, que «No vemos que as Cidades Antiguas depois dos Templos e das fortalezas e Muros e Paços: a cousa em que se mais esmerarão foi em Trazer As fontes das Agoas por grandes Arcos E Canos e Conductos has suas Cidades (...). E Lysboa onde todos bebem Agoa não tem mais que hum estreito chafariz para tanta gente (...). Hora se Lysboa Tem a Presunção da Mayor e mais Nobre Cidade do Mundo: como não tem (...) Agoa para beber a gente do Mundo? E poys ElRey vosso Avô Trouxe a Evora a Agoa da Prata (...). Tambem V.A. o Deue nisto de Emitar (...): E Deue de trazer a Lysboa AGOA LIVRE que de duas Legoas della trouxeraõ os Romãos a Ella (...). E Ganhe V. A. Esta Hõrra de fazer este benificio a Lysboa (...) de Restituir Esta fonte de Agoa Livre que assi se chama (...)».
Ora, construído o aqueduto das Águas Livres (1731-1748), ele tornou-se realmente um monumento de Lisboa, que causava admiração entre os estrangeiros que nos visitavam. Ruders, em 1799, ficou maravilhado:
«No dia 22 de Abril demos um passeio fora da cidade para visitar os célebres aquedutos de Lisboa. A descrição de monumentos tão grandiosos (…) fica sempre aquém da realidade. É impossível comunicar aos outros o sentimento de admiração que se apossou de nós logo à primeira vista, porque a imaginação não pode elevar-se a uma concepção tão sublime como aquela que a realidade apresenta».
J. Clark, sobre desenho de Bradford e H. Michel, Aqueduto de Alcântara (1809).

No livro do físico e militar escocês Adam Neale, publcado em 1809, este também proferiu: «This aqueduct is really a stupendous work, and does honor to the Portuguese nation. (…) In passing over the vale of Alcantara, it unites two hills by thirty-five-arches, fourteen of which are very large; some of them three hundred and thirty-two feet high». E, ainda em 1815, Breton de la Martinière, também não ficou indiferente: «(…) il passe avec raison pour un des plus admirables monuments de l’art des modernes (…)».
Por minha parte, cada vez que passo por ele, admiro-o, nomeadamente por saber que resistiu ao terramoto de 1755. E gostaria um dia de fazer um dos passeios que o percorrem.
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Bibliografia:
Jean Baptiste Joseph Breton de la Martinière, L'Espagne et le Portugal ou Moeurs, usages et costumes des habitants de ces royaumes, précédé d'un précis historique. Vol. 6, p. 110.
Francisco de Holanda, Da fábrica que falece à cidade de Lisboa, 1571. In Jorge Segurado, Francisco d'Ollanda, Lisboa, Edições Excelsior, 1970, pp. 99-102.
Carl Israel Ruders, Viagem em Portugal 1798-1802, Vol. I, tradução de António Feijó, Lisboa, Biblioteca Nacional, 2002, pp. 47-48.
Adam Neale, Letters from Portugal and Spain, comprising an account of the armies under their excellencies Sir Arthur Wellesley and Sir John Moore, London, Richard Phillips, 1809, p. 80.

3 comentários:

MR disse...

Faça o passeio. Eu estava com medo porque tenho vertigens, mas fiz o passeio muito bem. E tem umas vistas fabulosas.
Bom sábado!

Rui Luís Lima disse...

Quando me falam no Aqueduto das Águas Livres, recordo-me sempre do filme (mudo) "Os Crimes de Diogo Alves".
Bom domingo!

Margarida Elias disse...

MR - Estou muito tentada. Bom dia!

Mister Vertigo - Deve ser interessante. Bom dia!